CASAF: Resistir à Linha Temporal – Um Pilar de Luta e Representatividade na
Medicina da UERJ
O Centro Acadêmico Sir Alexander Fleming (CASAF), entidade representativa dos mais de
600 estudantes de medicina da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), é mais
do que um espaço de articulação política, convívio e vivência acadêmica. É uma instituição
com história, legado e relevância inquestionáveis para a formação de médicos
comprometidos com a saúde pública e a transformação social. Inicialmente com sua sede
na Av. Boulevard 28 de Setembro, o CASAF conquistou um espaço próprio dentro do
Complexo Hospitalar Pedro Ernesto, desempenhando um papel crucial na vida dos
estudantes.
Marcado por uma história vinculada à luta por uma educação pública, assistência estudantil
e permanência, o centro acadêmico desempenhou desde a sua criação um papel
fundamental na rotina dos estudantes. Era no CASAF que as principais discussões e trocas
aconteciam, sendo um ponto de convergência entre diferentes perspectivas e interesses.
Desde sua fundação, o CASAF tem se destacado como um símbolo de resistência e
protagonismo estudantil, acompanhando as transformações históricas, sociais e políticas
que marcaram a UERJ e o Brasil. Em tempos de ditadura civil-militar, o CASAF foi palco de
debates fundamentais sobre liberdade e democracia, mas também do trágico assassinato
de Luiz Paulo, um de seus estudantes, cuja memória continua a inspirar a luta por direitos.
Nas décadas seguintes, esteve à frente de movimentos que discutiram políticas de saúde,
financiamento universitário e assistência estudantil, sendo um canal para amplificar as
vozes dos futuros médicos diante de questões cruciais para a sociedade. Não à toa, o
legado de todas as gestões tem sido a defesa intransigente do SUS e a garantia de um
ensino público de qualidade, sem retirada de direitos.
A UERJ, como uma das principais universidades públicas do país, é um microcosmo das
tensões e esperanças que atravessam o ensino superior brasileiro e a sociedade. Nesse
contexto, o CASAF atua como um ponto de convergência entre a formação técnica de
excelência e os desafios sociais. A luta por uma saúde pública equânime, pela inclusão
social e por melhores condições de ensino sempre esteve no DNA dessa organização, que
não apenas representa os alunos, mas também reflete suas demandas, sonhos e ideais.
O CASAF também se destaca pela promoção de eventos que aproximam os alunos de
temas contemporâneos da medicina, como equidade racial na saúde, saúde mental,
garantia de direitos LGBTQIAPN+, desafios da atenção primária e avanços tecnológicos na
área médica. Palestras, simpósios e debates têm sido instrumentos essenciais para
fomentar discussões e preparar os estudantes para os desafios da medicina
contemporânea. Além disso, possui papel fundamental na organização conjunta de
congressos e jornadas acadêmicas, eventos de extrema importância para atualização e
inclusão dos alunos na realidade acadêmica.
O papel do HUPE e o impacto na formação
O CASAF possui uma relação histórica com o Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE),
que vai além do uso de suas instalações para ensino. O HUPE é um pilar na formação dos
estudantes, oferecendo vivências práticas que conectam a teoria à realidade do SUS. As
conquistas do CASAF, como a ampliação da infraestrutura e a manutenção de condições
adequadas para aprendizado, também impactam diretamente o hospital, reforçando a
importância da parceria entre ambos.
Desafios recentes e a gestão de 2024
No último ano, a gestão do CASAF enfrentou desafios significativos, incluindo cortes
orçamentários que ameaçam a estrutura da UERJ e os constantes ataques à educação
pública. A promulgação da AEDA 038 pela reitoria, que promoveu o corte de auxílios para
estudantes em vulnerabilidade social durante o recesso de meio de ano, gerou intensa
mobilização do CASAF. Participamos de manifestações, atos, reuniões e assembleias;
auxiliamos na doação de alimentos e remédios; e redigimos notas de repúdio para
demonstrar nossa oposição firme a essa medida.
A gestão de 2024, marcada pela eleição de uma chapa de oposição, reafirmou o caráter
democrático e dinâmico do CASAF. Nomeada Professor Paulo Pavão, a chapa trouxe uma
proposta de resgate da memória histórica da entidade e de fortalecimento da mobilização
estudantil. Paulo Pavão, formado em medicina pela UERJ em 1971, destacou-se por sua
luta contra a ditadura e por seu trabalho como professor de psiquiatria, sendo um símbolo
de humanização e empatia na prática médica.
Desde maio, o CASAF vem promovendo mudanças concretas para atender às demandas
estudantis. Conquistamos a ampliação do horário de funcionamento da biblioteca, a
instalação de Wi-Fi em todo o prédio da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) e melhorias
na acessibilidade para pessoas com deficiência. Apesar dessas vitórias, ainda enfrentamos
desafios, como a reestruturação do espaço precário do plantão geral. Contudo, o diálogo
constante com a direção do HUPE e da FCM tem permitido avanços significativos.
O CASAF como espaço de convivência e luta
Além de sua importância política, o CASAF é um espaço de acolhimento e permanência.
Aqui, os estudantes encontram um lugar para estudar, acessar a internet, se alimentar e
participar de debates e trocas que enriquecem sua vivência acadêmica. É um lugar de riso,
choro, desabafos e união, onde amizades são construídas e fortalecidas.
O legado do CASAF: passado, presente e futuro
Mais do que um centro acadêmico, o CASAF é um espaço de construção de cidadania e
solidariedade, onde os estudantes aprendem que a medicina vai além da prática clínica: é
também um ato político. Seu legado não é apenas histórico, mas também uma promessa de
futuro, em que a medicina seja exercida com empatia, ciência, evidências e
comprometimento social.
O CASAF resiste à linha temporal, inspirando não apenas os futuros médicos e ex-alunos,
mas todos aqueles que acreditam no poder da educação e da coletividade para transformar
o mundo.